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20 de mai. de 2011

Plantas medicinais e fitoterápicos em debate na cidade de Campinas

Plantas medicinais e fitoterápicos em debate
na cidade de Campinas

Márcia Tait

Semana de Fitoterapia promove espaço de discussão aberto e gratuito na cidade há mais de uma década

Entre os dias 26 e 29 de abril aconteceu na cidade de Campinas à décima primeira edição da “Semana de Fitoterapia prof. Walter Radamés Accorsi”. As atividades da foram variadas contando com palestras de especialistas dos segmentos de fitoterapia, cultivo de plantas medicinais, terapias alternativas em saúde, além de visitas técnicas a locais de cultivo e beneficiamento de plantas medicinais, minicurso e feira com produtos fitoterápicos, fitocosméticos e produtos artesanais de projetos sociais do município.

Segundo Marli Ribeiro, uma das organizadoras do evento e coordenadora do projeto Botica da Família da Prefeitura Municipal de Campinas, o evento tem como principal objetivo “divulgar a fitoterapia
de forma científica aos profissionais, agricultores e a população em geral”. O evento contou com prestígio do público e auditório lotado durante vários períodos. Duas das palestras mais prestigiadas pelo público foram a do naturopata André Hisberger e do médico Alberto Gonzales, realizadas no dia 27 de abril.

A palestra de André Hisberger ofereceu um panorama da produção científica e do uso de plantas em fitoterapia no Brasil e outros países como Alemanha e Estados Unidos. Também falou sobre os entraves e as possibilidades das políticas públicas voltadas a terapias integrativas no Brasil. “A política pública de terapias integrativas e complementares no Brasil é muito boa na teoria, mas a forma como é feita na prática ainda tem muitos problemas, o principal deles é que as terapias são aplicadas de forma fragmentada, o que acaba tornando-as pouco eficientes”, analisou o naturopata. O terapeuta também salientou a importância das práticas integrativas como forma de promover a adoção de outros parâmetros de vida e saúde que possam reverter o “surto bacteriológico” que vivemos atualmente.

A palestra do médico Alberto Gonzales autor do livro “Lugar de Médico é na Cozinha”, abordou o tema da centralidade de uma alimentação adequada para a boa saúde. Os seus trabalhos científicos e práticos no Programa Saúde da Família estão baseados nos benefícios de uma alimentação baseada no consumo de alimentos crus e grãos germinados - os chamados “alimentos vivos” - e da ingestão diária do “leite da terra”, um líquido preparado com vegetais, folhas e frutas orgânicas.

Essas práticas para saúde “não hegemônicas”, como definidas por Alberto Gonzales, teriam um papel central na mudança de paradigma, para a transição do que chamou de “cultura da morte para uma cultura da vida”. Essa cultura da vida teria seus princípios baseados em conceitos de teorias sistêmicas que trabalham a terra como elemento vivo (vasta vida microbiana) e capaz de auto-regulação. A saúde humana também integraria esse sistema e, ao mesmo tempo, funciona como um sistema próprio (mas não independente) formado pelo corpo e sua microbiota intestinal e sanguínea. 

“Não existem plantas medicinais: todos os alimentos vivos são fitoterápicos. Por isso defendo uma prática de fitoterapia nutricional do cotidiano para alcançar uma saúde plena”, explicou o médico. A palestra foi encerrada com a preparação do “leite da terra”, que também pode ser provado pelos presentes.

No período da tarde do dia 26 os pesquisadores Pedro Magalhães, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Lauro Barata, da Unicamp e Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), falaram sobre o cultivo de plantas medicinais, cooperativismo, técnicas para produção e sobre a importância da ampliação de pesquisas em etnomedicina e da expansão do mercado de fitoterápicos no Brasil. Segundo dados apresentados por Lauro Barata, o mercado de fitoterápicos no Brasil já movimenta atualmente cerca de 22 milhões de reais por ano, o que representa uma pequena parte do PIB de 8% destinado a saúde. Para Lauro Barata, o Brasil já possui base tecnológica a mão de obra qualificada para ampliar esse mercado, mas faltaria uma relação mais próxima entre a academia e os setores produtivos.


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